BALA PERDIDA – O cidadão na mira da guerra dos cegos.
© Copyright by poetisa Luciana Tani
O Brasil é o terceiro país da América Latina em número de mortos causados por bala perdida, segundo estudo feito pela ONU; e a cidade do Rio de Janeiro torna-se referência na “Medicina de Guerra”, devido ao crescente número de vítimas de ferimentos causados por armas de guerra, atendidas em hospitais e unidades médicas. Nesse conflito urbano, temos de um lado, as forças de segurança pública cada vez mais sucateada e carente de recursos para enfrentar um oponente cada vez mais bem armado e organizado. No meio, o cidadão comum fugindo do conflito armado, tentando se esconder para não ser encontrado por essa temida “bala perdida”.
Segundo estudo pesquisa do Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 90% da população da cidade do Rio de Janeiro tem medo de tiroteio, bala perdida ou de morrer em um assalto, além disso, a pesquisa revela que 34% dos moradores já estiveram no meio de um confronto armado. Segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, essa análise do medo de “morte por bala perdida” é um sentimento muito amplo na cidade do Rio de Janeiro, onde
as pessoas sentem medo dentro de suas próprias casas, que são lugares que deveriam tera sensação de proteção.
A crescente estatística de homicídios por bala perdida é o reflexo das falências das políticas públicas do estado, que fecham seus olhos para o total despreparo em reverter anos de abandono para as necessidades básicas da nossa sociedade (saúde, educação e
segurança pública), dando oportunidades para o surgimento da marginalidade cega e violenta. Nessa guerra entre esses oponentes, todos atiram para todos os lados, e todos negam a autoria do crime que faz seu alvo no cidadão brasileiro, aumentando assim, esse genocídio.
Diante do cenário formado da guerra urbana, a solução para o conflito armado parece cada vez mais distante e inatingível, enquanto isso é atingível nosso futuro alvejado por uma bala perdida que rompe a fina linha da Vida e da Morte. A indiferença do estado ao caos responde o questionamento que toda sociedade procura em vão, se não houver
ações de todas as camadas sociais, toda movimentação ostensiva das forças nacionais e de segurança pública, será apenas paliativa. Somente uma sociedade unida com o estado democrático terá força suficiente para banir essa guerra instalada nas grandes metrópoles, com investimentos na base de nossa sociedade, nas nossas crianças, dando a elas oportunidades de acesso para boa educação, saúde e segurança.
O grande pintor, escultor e desenhista espanhol, Pablo Picasso (1881 – 1973), retratou os horrores e suas terríveis consequências na cidade de Guernica, Espanha, atacada em 26 de abril de 1937, quando esta foi bombardeada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Sua obra intitulada “Guernica”, do mesmo ano em que a cidade foi atacada (1937), é uma crítica contra o nazismo de Adolf Hitler, e mostra para o mundo
as atrocidades da guerra com toda atmosfera de realismo notadamente cubista, devido às formas geométricas perceptíveis nessa magnífica obra que impressionou até um oficial nazista, que perguntou para Picasso se foi ele quem fez a obra, então ele respondeu: “Não, foram vocês”.
A poesia intitulada “Bala Perdida”, de minha autoria, convida a todos para uma reflexão da realidade que as grandes metrópoles vivem e tentam sobreviver dessa ameaça, sob o ponto de vista de um projétil bélico criado pelo homem durante um lapso temporal, e se uma autoridade perguntar para mim se eu fui autora dessa narrativa, eu farei como
Pablo Picasso e responderei:
“Não, foram vocês”.