Colunista Graziela Barduco

Mulheres de Potência na Literatura de Cordel

Mais um março a se achegar
Com a força feminina
Uma luz que predomina
Pela luta a se afirmar
Lhes convido a caminhar
Para assim fortalecer
Reforçar nosso saber
E clamar pelo respeito
Exigir nosso direito
De existir e respirar.

Olá queridos e queridas leitores (as)! Somos Lu Vieira e Graziela Barduco, e é com muita honra e alegria que, neste mês de março de 2025, compartilhamos com vocês este nosso artigo sobre Literatura de Cordel, sobretudo exaltando a escrita feminina na Literatura de Cordel.

Vamos contar um pouquinho da nossa história, mas pra começar vamos contar como nos conhecemos. 

Nós fazemos parte do mesmo coletivo de cordelistas, o Teodoras do Cordel, grupo poético, artístico, literário e multicultural, que produz, promove e difunde a literatura de cordel (reconhecido em 2018 como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo IPHAN), desde 1º julho de 2020.  E foi neste contexto deste coletivo que nos aproximamos, nos grudamos e não mais conseguimos nos desgrudar!

Para que o querido (a) leitor (a) possa saber um pouquinho mais sobre este estilo de poesia pelo o qual nós duas somos completamente apaixonadas, que é Literatura de Cordel, lá vai a definição certeira do que é cordel, do pesquisador e grande amigo, Aderaldo Luciano:

Denomina-se cordel um tipo de poesia com regras definidas e pré-determinadas que, durante muito tempo, era impressa em folhetos rústicos. Essa literatura nasceu no séc. XIX , fruto da confluência para a cidade de Recife, dos poetas Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Francisco da Chagas Batista e Silvano de Lima.

E falando em cordel, é com grande alegria que chegamos em março, sempre buscando abarcar e ampliar a sabedoria feminina no cordel.

Março é o mês da sociedade unir-se em torno das pautas que defendem a vida da mulher, salientando que o ano inteiro mulheres são molestadas, atacadas,  mutiladas, apagadas e impedidas de viver livremente. 

Por isso, o mês de  março é símbolo de luta. Momento de unirmos forças e vozes para  denunciar, avisar e convocar todos, todas e todes para mudarmos a forma como a mulher é tratada na sociedade. 

Basta de apagamento das sabedorias, conquistas e feitos femininos! 

A filósofa Lélia Gonzalez, alertava em suas pesquisas e publicações sobre a força  da intersecção de lutas, que mulheres e homens devem trabalhar juntos em prol dos mesmo objetivos, sem disputa ou violência, sem abusos ou apropriações indevidas, sem mortes e sem questionamentos das vozes femininas, em uma realidade em que a mulher tenha seus direitos garantidos, equiparação salarial para que a tão sonhada igualdade de gênero deixe de ser uma utopia e se transforme em uma realidade social.

Escute esse recado 
Entre nessa sintonia 
Nós lutamos pela vida
Paz, respeito e empatia 
Juntos homens e mulheres 
Pelo fim da tirania. 

E para celebrarmos a sabença feminina neste mês de luta, trazemos a história de Enheduanna, que viveu por volta de 2.285 a 2.250 a.C, e exerceu um papel político importante no Império Acadiano da Mesopotâmia, fundado por seu pai. A poeta e sacerdotisa  é considerada como a primeira escritora do mundo, já que seus textos verdadeiramente foram atribuídos a ela. Antes de Enheduanna, outras pessoas já haviam escrito textos. Contudo, seus nomes não apareciam e permaneciam anônimos. A obra da poeta celebra deuses e o poder do Império Acadiano, mas também é autobiográfica. Enheduanna escreve sobre frustrações e esperanças pessoais, acerca de seus sentimentos sobre o mundo e sobre as guerras. A humanidade com seu olhar patriarcal, esconde embaixo do tapete há séculos o poderio das mulheres, e é inspiradas por figuras femininas sábias como Enhreduanna que selecionamos obras escritas por mulheres, escritoras que ousam falar sobre suas memórias, conquistas e dores, utilizando em sua maioria a linguagem poética do cordel.

Para exaltar cordelistas mulheres, que levam com primor e sapiência nossa Literatura de Cordel por onde passam, seguem sugestões de obras em Cordel ou sobre Cordel, publicadas por mulheres fortes e guerreiras.

Maria Clara Psoa e seu livro “Vozes do Cordel: história, versos e transformações”, lançado pela Editora Areia Dourada.

“Vozes do Cordel: história, versos e transformações” resgata a trajetória do Cordel no Brasil assim como suas organizações e coletivos que marcam a história desse gênero literário que tanto nos inspira.

Maria Clara Psoa é escritora Cordelista e Rapper. Mestra em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC e Doutoranda em Serviço Social pela PUC – SP, pesquisando as culturas de resistência do Brasil na contemporaneidade – Hip-Hop, Cordel e Slam. Com 15 anos lançou seu primeiro cordel “O tolete de Itu”, participou de diversas obras coletivas, suas publicações mais recentes de autoria individual são: “Cordel no ‘mei’ de feira” (2024), “Retalhos da Vida” (2023), “São Tantas as Marias” (2022) e “Com a Fauna em Extinção: Ariranha pede Socorro!” (2023). Em 2024 lançou seu EP “Guerreiras Somos nós” em todas as plataformas digitais e seu livro “Vozes do Cordel: história, versos e transformações”, fruto de sua dissertação de mestrado. Compõe o Coletivo Teodoras do Cordel – Artevistas SP e é militante do PSTU. Em 2019 deu à luz a sua filha Maria Elis, que se transformou na esperança de construir um futuro melhor e digno para a classe trabalhadora e as novas gerações.

Instagram: @mariaclarapsoa

Lu Vieira e seu ” O lugar da Mulher” com ilustração de Kelmara Castro e publicado pela Cordelaria Castro.

Em  “O Lugar da Mulher”, nos deparamos  com uma rima empoderada e inclusiva, assim como tem sido todas as ações da autora na vida e no âmbito literário.Logo, desejo a você caro leitor e cara leitora, adentrar nestas páginas, como quem se lê um bordado, ou seja, a força não está no desenho, mas, na sutileza da linha. 

Lu Vieira é professora, mediadora e cordelista. Autora dos Cordéis “Militante da Arte” ( Editora Cordelaria Castro),“O lugar da Mulher” ( Editora Cordelaria Castro), “Retrato de Mulher- em poesia de Cordel”(Editora Cordelaria Castro), Margarida, a vovó sabida( Editora Cordelaria Castro),  e “A criança e o Brincar” ( Editora Areia Dourada). Publicou coletivamente 12 obras enaltecendo o feminino e a cultura popular.  Integra o Coletivo Feminino Teodoras do Cordel Artevistas SP- que tem como missão empoderar a escrita feminina e o grupo Cordel Cantante onde apresenta espetáculos artísticos que divulgam a história do Cordel. É curadora do Clube de Leitura Ler Mulher e desenvolve nas redes sociais um trabalho de incentivo à leitura de obras escritas por Mulheres. Idealizadora e mediadora Clube de Leitura de Cordel de São Paulo, que integrou a programação do Museu Casa Mário de Andrade entre 2020 a 2023. Colunista do site das Teodoras do Cordel e da Revista Voo Livre.

Instagram: @ler_mulher

Maria Rosa Caldas e seu livreto “Doida de Atirar Pedra”, com capa da própria artista, lançado pelo Selo Pé no Chão.

“Doida de Atirar Pedra” aborda a temática da loucura, através do tempo, citando algumas personalidades icônicas em sua história.

Maria Rosa é multiartista e comunicóloga, fundadora e coordenadora do grupo de estudos e promoção da dramaturgia cultural brasileira, CIA. PÉ NO CHÃO. Desenvolve projetos de: Comunicação – Desenvolvimento sociocultural, Publicidade e Multimidias, Design Gráfico – Ensino e Criação, Artes – Dança, Teatro, Música, Artesanato, Mamulengo, Gravura e Cordel. É editora do Selo Pé no Chão e compõe o coletivo TEODORAS DO CORDEL ARTEVISTAS – SP, SP Cordel e SP Forró.

Instagram: @maria_rosa_caldas

Graziela Barduco e seu livreto “A Didática na Educação: Um Cordel Didático”, com capa de Kelmara Castro, lançado pela Editora Cordelaria Castro.

“A Didática na Educação: Um Cordel Didático” nasceu enquanto um ensejo de passeio/síntese pelas temáticas abordadas na primeira disciplina eletiva cursada pela autora no curso de Doutorado Profissional em Educação, pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), “Situações Didáticas e Construção do Conhecimento”, ministrada pela Profa. Dra. Maria de Fátima Ramos de Andrade.

Graziela Barduco é escritora, cordelista, atriz, mestra em Artes da Cena pela Escola Superior de Artes Célia Helena, doutoranda em Educação pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul e pesquisadora da Literatura de Cordel Brasileira. É autora de diversos títulos entre cordéis, livros infantis e livros de poesia. Já publicou em mais de 50 antologias e participa também de publicações coletivas em cordéis. Participa do coletivo feminino Teodoras do Cordel Artevistas – SP, grupo poético, artístico, literário e multicultural, que produz, promove e difunde a Literatura de Cordel Brasileira, e é também colunista do portal das Teodoras do Cordel. Atualmente integra a comissão do Fórum de Salvaguarda da Literatura de Cordel em São Paulo, resguardando e promovendo, junto ao IPHAN, a Literatura de Cordel Brasileira. Recentemente lançou dois novos cordéis, pelo selo da Cordelaria Castro: “A Festa da Costura” e “A Didática na Educação: Um Cordel Didático”, ambos pela Editora Cordelaria Castro.

* Instagram: @graziela_barduco

Deste jeito, despedimos
Com a força feminina
Que aqui se dissemina
Com o março que fruímos
Pois aqui não desistimos
Desta luz que revigora
Desde cedo, até agora
Na mulher que é resistência
Nossa luta é permanência
Fortaleza que se aflora.

Abraços afetuosos,

Graziela Barduco e Lu Vieira

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